Você fumava desde os 11 anos. Aprendeu com o seu pai, que aprendeu com o pai dele, e que também ensinou à sua mãe. E fumava primeiro aqueles restos que os dois esqueciam nos cinzeiros que mandavam você limpar, sem deixar sujar o chão. E contou pros seus amigos da escola como era a sensação de escrever no ar com a fumaça. E como você gostava da cor azulada da fumaça, como gostava ! E às vezes pulava refeições inteiras, sem nenhum problema, se tivesse do seu lado xícaras de café e carteiras de cigarro. E aprendeu a dirigir pela primeira vez porque seu pai era velho demais pra ir pro mercado sozinho comprar os cigarros, e você queria levá-lo mais rápido. E todas as namoradas que você teve, uma por uma, você acabou com todas elas porque insistiam que aquilo ia te matar. E nem o governo, com aquelas estúpidas propagandas anti-tabagistas, conseguiram assustar você. E quem diria, quem diria que aos 63 anos, não foi um enfisema, ou um câncer o que te matou. Mas uma bala perdida, disparada pela polícia militar, no cerco da favela na qual você morava. Contrariando o que todo mundo pensava ser previsível e fato consumado. Contrariando as leis da vida.
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