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quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Derradeiro fim.


          A morte é o evento mais significativo de toda a sua existência. A vida, em contraponto, é espontânea e absurda. Parece-me lógico que o que existe um dia deva deixar de existir, que pereçam as matérias e os fluidos, mas ainda me surpreende a maneira relapsa como surge a vida. De onde viemos? Como pode uma simples estrutura de carne, sangue, ossos e neurônios ser ligada ao fluxo de energia do universo e ser dotada de tanto potencial auto-consciente?

          Enfrentamos a existência com uma certeza absurda de que temos tempo para concluir mais ou menos um certo período de atividades e eventos. Estudar, graduar-se, empregar energia em atividades (algumas por prazer, outras pelas recompensas obtidas), procriar, e, com assumida sorte, ter ainda um bônus de tempo para finalmente contemplar o mundo, e só então, ainda com pena por nós mesmos e pelos que ficam, morrer.

          As pessoas não entendem a morte. Até mesmo os que querem morrer não entendem a morte. Os suicidas abraçam a morte como um anestésico para a situação atormentada e torturante em que se encontram. A inadequação de suas personalidades e pensamentos aos parâmetros impostos pela sociedade geram nos suicidas a vontade de deixar de sofrer, ou, ainda, a desistência da tentativa de condicionar a mente ao modelo social. Mas ainda não encontrei que desejasse morrer por entretenimento, diversão ou paixão pela morte.

          A morte não é para ser aceita. A morte não é para ser questionada. Afora casos legais em que não se conclue a investigação criminal, não existe morte inexplicada. A morte o é e se manifesta de diversas formas, todas elas estudadas pelos homens da medicina. A morte não é sobrenatural. Quem entende a morte sabe que não se trata de aceitação ou desejo. Quem entende a morte respeita sua sombra pairando sobre todo o tempo que esta pessoa tiver a fortuna de viver. De certa forma, desde que entendemos que existimos, sabemos que um dia morreremos. Ninguém nunca mente a respeito da mortalidade do homem. Apenas nosso vão orgulho e excesso de confiança nos fazem crer que a morte nos esperará ao longo de sessenta ou setenta anos, e fazemos planos baseados nessa expectativa tola - e nos frustramos quando estes planos são interrompidos para os que nos acompanham na jornada da vida.
          
          Mas morte é o que há de mais significativo na existência de um homem pois é derradeira. A morte é um catártico fim, independente dos meios.