qualquer coisa grite meu nome:

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

BlackBird.


Quando eu era um apenas garoto inocente, morava com minha avó na reserva indígena. Ela era a curandeira de lá, e às vezes eu tinha que acompanhá-la quando ia fazer aqueles rituais estranhos. Eu não acreditava muito nas coisas que ela me dizia que fazia, especialmente porque eu sempre ficava de fora. Ela não me deixava entrar, dizia que os espíritos mais antigos cobiçavam uma alma pura como a minha. Eu ainda não acreditava em nada disso, mesmo criança eu já sentia que era capaz de matar, eu sabia que havia algo muito errado dentro de mim. Mas talvez fosse exatamente isso que os espíritos da vovó cobiçassem, e ela jamais me diria a verdade, ainda tentava me proteger. Um dia, a tarde já ia longe, o sol se pondo, lançando aquele brilho sinistro na terra vermelha, ela olhou pra mim e me perguntou, com a voz um tanto quanto rouca:
- Você quer se transformar em uma coruja Alexander? Você sabe que eu consigo fazer isso.
Até hoje eu não sei de onde ela tirou aquela idéia. Eu realmente me perguntava que pássaro eu gostaria de ser, e sabe lá deus como ela pode me ouvir. Mas eu jamais seria uma coruja, essa história de ficar parado só observando, essa coisa de sabedoria ancestral, aquilo não me apetecia.
- Não vó, eu preferia ser um pássaro preto.
Ela suspirou triste. Acho que desde então minha avó já sabia as coisas que eu faria quando fosse mais velho. Acho também que foi a partir daquele dia que eu passei a acreditar nas coisas que ela fazia. E tenho certeza que foi naquele momento que os seus espíritos velhos finalmente conseguiram aquilo que tanto cobiçavam: minha alma.

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