qualquer coisa grite meu nome:

sábado, 30 de janeiro de 2010

vespertino.

Todo dia eu levanto e ando, e bebo café e saio pra trabalhar. Não penteio os cabelos, porque eu sempre gosto deles da maneira que estão quando eu acordo, e aí saio pra trabalhar. Se eu uso meu sapato de couro avermelhado é porque eu quero que chova de tarde e eu volte pra casa molhado e sorridente, cantador e escritor, inspirado. Se eu lembro de pôr o cinto que eu ganhei no natal, é porque no caminho pro trabalho eu vou parar na padaria e olhar a vizinha, e comprar uma rosquinha e trocar uma piada vespertina com o velho manco que pede esmolas na calçada. Uma vez eu sentei na calçada com o velho manco e eu percebi que ninguém nos deu nada, acho que estraguei o dia dele, carma, essas coisas. Senti tanta pena e remorso, e ao mesmo tempo uma maníaca vontade de rir, que resolvi abrir a carteira e deixar todo o meu dinheiro ali, todo ele. Aí eu fui trabalhar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário