qualquer coisa grite meu nome:

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Bem vindo ao mundo misterioso.

        Saindo da terra surgiu-me um espectro, vermelho. O mais curioso era o fato de que seu pescoço e rosto não existiam, e o corpo terminava conectado a lugar nenhum. Talvez por este motivo usasse uma máscara branca, era sua forma de demonstrar as expressões e sensações. Disse-me “Olá”. Sua voz era mais um sussurro frágil e envolvente do que fala. Mesmo eu sendo apenas um pequeno garoto, conseguia compreender o que ele realmente era: misterioso.
        Então eu lhe perguntei quem era, e a resposta que ouvi não foi exatamente concreta. “Sou um anjo”, ele me disse. “Mas qual é o seu nome?” Eu insistia. “Satan”. Foi neste momento que eu percebi que aquilo não era um sonho ruim, mas um processo de glória, um momento de celebração interna. O espectro provou que conhecia muito bem minha alma, pois me questionou o que havia de errado, ao que eu insisti que não era nada. “Apenas é um nome um tanto estranho para um anjo”, disse-lhe. Ele me convidou a entrar no que chamava de Mundo Misterioso, um lugar onde tudo era o centro de tudo e todas as coisas estavam correlacionadas sob o julgo de Satan. Era como uma ilha.
        Com um gesto, ele fez surgir ao longo da terra flores, cipós, grama, todas as pétalas coloridas do mundo. Uma profusão de natureza. Tentava me impressionar. E conseguia cada vez mais. “Como você aprendeu a fazer isso?”. “Eu não aprendi, na verdade. Isso vem naturalmente de mim, como outras coisas curiosas. Está com fome?” Eu estava. “Que tipo de fruta tu gostas mais?” Gostava muito de maçã, e antes que eu pudesse dizer-lhe, três delas surgiram em minhas mãos. Enquanto eu me ocupava comendo minhas maçãs, Satan fez surgir no meio da ilha um pequeno castelo de barro. Pediu-me que modelasse pessoas com bolotas de barro que ele me entregava. Pôs todas as minhas criações juntas e com um simples toque de suas mãos, elas criaram vida. Era interessante e instigante ver meus miúdos homenzinhos vivendo pacificamente no meio daquela ilha salutar.
        Então ele modelou um pequeno boi, que foi posto no meio de dois dos meus bonecos, e imediatamente eles começaram a disputar o bovino. Satan observava a briga, verdadeiramente intrigado. “Acho vocês humanos muito interessantes. Mesmo sendo uma raça inútil e gananciosa.” Os meus homenzinhos agora travavam uma verdadeira guerra em seu pequeno mundinho, e o barulho era realmente horrível. “Que som irritante que tem!” A máscara de Satan refletia sua irritação, e com uma mãozada ele achatou todos os meus miúdos. “Tolos. Este planeta é com certeza fascinante. Estranhos mortais com estranhos costumes. Que tal um terremoto agora? Você tem que estar atento, se manter fora do perigo.” E mais uma vez ele agitou sua mãos, só que agora não mais criavam coisas e sim destruíam.
        O toque de Satan destruiu o que restava do pequeno mundo de barro. “Não posso fazer nada de errado... Se nem ao menos sei o que é errado.” “Você os matou!”. Eu o acusei. “Não ligue para eles. Estas pessoas não têm valor. Podemos fazer mais deles se precisarmos”. Dei meia volta e corri. Nunca soube se tudo não passou de um sonho estranho. É o que acontece quando você é mais estranho ainda.

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