qualquer coisa grite meu nome:

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

House Of Red Sorrow

Repousando sobre a mesa, o brilho prateado do revólver seduzia. A vontade de fazer qualquer coisa era brilhante, embutida no cano longo daquela arma. Sentado na poltrona, descalço, ele observava as nuvens pela janela, falava sozinho, recitava uns trechos empoeirados de um conto esquecido há muito. Não se importava com os dias, as horas, não ligava para o meio-ambiente, não conhecia ninguém. Amava a extrema solidão. Havia cacos de vidro por todo o apartamento e a maior parte deles tinha aquele tom de garrafa velha de cerveja, alguns manchados de sangue. Não havia, entretanto, nenhuma gota de líquido desperdiçado no chão. A agulha da vitrola pulava no canto direito da sala. Ele levantou, cruzou a distância lentamente e repôs a agulha na primeira seção do disco. O som encheu o ar de vibratos e ele cortou o pé enquanto voltava para a poltrona. Em algum lugar da cidade ele sabia que alguém ria, mas se sentia bem assim mesmo. Seu revólver ainda cintilava, os mortos já estavam todos mortos, e tudo estava bem.

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