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segunda-feira, 12 de abril de 2010

Carteiro e Carnavalesco;

o homem do carnaval
                    Um dos meus avôs era carteiro, um quase carteiro-viajante. E o outro trabalhava numa escola de samba fajuta, bem escola de quintal. O primeiro às vezes roubava as cartas que não estavam com o endereço completo, que não iam chegar ao destinatário. E as levava para casa, onde meus tios e tias as liam, e aprendiam histórias de vida que mais tarde poderiam contar como se fossem suas. Com toda a propriedade de quem sabe os fatos.
                    O segundo fazia carros alegóricos cheios de plumas e dourados, e por mais que não tenha convivido muito com sua filha, minha mãe, ela também é fascinada pelo colorido do carnaval. Eu, na verdade, às vezes acho que ela lagrima em silêncio durante os desfiles na TV. Deve ser saudade reprimida. Coisas que são despertas dentro da gente pelo signo certo.
                    Os dois bebiam muito e tinham problemas. Muitos filhos, nem todos da mesma mãe. E os dois decerto às vezes ficavam um pouco infelizes, se afundavam de leve na depressão. Porque eu sinto, muito aqui dentro de mim, que nenhum dos dois fez exatamente o que queria da vida. Talvez porque naquela época você não fosse autorizado a ler o que havia dentro da sua alma, somente o que havia fora. Talvez porque não interessasse suas aspirações e sim o que fazer com uma esposa de 16 anos e filhos pequenos para alimentar. E mesmo assim eu acho lindo os que os dois conseguiram: esse flerte com a arte. Essa coisa que passou de geração em geração, até chegar exatamente aqui.
                    E por isso eu agradeço ao carteiro e ao carnavalesco beberrões, por gerarem uma família que me ensinou a amar o mundo artístico. Da literatura, dos sonhos, mundo dos sons e das formas e cores, o mundo no qual eu vivo o tempo todo. O mundo dos dois e agora também Meu.

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